terça-feira, 23 de outubro de 2007

My own eternal sunshine of the spotless mind.

Watching this movie was a complete deja vu for me.

Yes, because I saw it more than once, of course, but mainly because it reminds me of my sleepwalking and the sensation I get everytime I wake up standing in another place that not my bed. I understood completely what Joel Barish felt by seeing himself instantly in a totally different place, not understanding what, why or how that was happening. Or getting details kept in memory that don't have anything to do with each other, all mixed up.

The exactly same thing happens to me in my sleep. Usually when I'm tired, my brain creates this complex plots during my dreams, and almost making them so real to me that I wake up and try to deal with the dreamt situation even being awake. It's only at a short time of conscientiousness that I try to force my brain to understand the reality, to see where I am and return to bed, embaraced.

My first wave of sleepwalking took place two years ago - I always had this dream that I would go visit a house with some other people, and while seeing an empty room, I stopped to look for the others who were with me before. No one is there anymore nor the room is open. I try desperately to find the way out, while screaming for help, and there is no door I can find, what makes me search for a passage or a simple way out (Perhaps like Alice in Wonderland, trying to find a way to go through the small door.)

Suddenly I wake up, because somehow I understood that the things I'm touching in order to find this passage are really part of my bedroom and not of some crazy dream. And there I am standing by the wall just trying to reach a way out, feeling desperate while my heart beats so fast as if I had really no solution. And unless I find my true door or true window, there is no other passage (no true rat holes that could help me either ). I´ve been to my doctor because of this, and it probably has just to do with tiredom. What worries me mostly is not being able to have a good night sleep and also, not controlling my words that come out during the night. I remember sharing a room with two close friends, waking up in the morning and having them laugh, because I just "told them all my life while sleeping". I wonder if I can keep my secrets with me.

But even so I continue having a strong physical and mental connection to my sweet little brain, even if I don´t intend to. As we say in portuguese, "nao fosse ele o meu".
He's probably just trying to help me having a better imagination - a good one is just the essential for someone to be happy, I think - but everyone knows that there are some kinds of help which just overwhelm you in a exceeded way.

*

Momentos de privacidade

Outros ainda me acham estranha

Aprendi a viver como uma alemã. Deixei parte da minha flexibilidade na minha mala, com as coisas de que não preciso. Aprendi a entrar apressadamente no metro e sentar-me num dos espaços vagos, como se fosse uma corrida (com um certo nível de educação, com a aparência de que só nos dirigimos um pouco apressadamente para o lugar. Faz sinceramente lembrar o jogo da cadeira, em que todos corremos e no final algumas pessoas olham para o lugar preenchido, e afastam-se desiludidas). Aprendi a definir tudo o pretendido exactamente, ter a certeza de que é o que penso. Até que dei por mim a ser chata para amigos portugueses, simplesmente porque queria perceber especificamente o que queriam dizer. Não deixo nada mal definido. Uma das características da língua portuguesa é a ambiguidade de muitas palavras - e até agora, não havia mal em deixar essa ambiguidade, rir com o que as palavras nos fazem lembrar. Se não tivesse utilizado a palavra correcta, não havia mal - o importante era que fosse compreendida. Até que me perguntam vezes sem conta: "Mas que queres dizer com isso? Não percebo... ". Ah, saudade de dizer "coisa" e "coiso" para os objectos de que nos esquecemos o nome; "fio" para "linha" ou "cabo", "tapete" para "carpete", "meias" para "meias", "collants", o que for.

E por outro lado, há coisas do estilo alemão que não consigo que se adaptem em mim. Falo imenso para a opinião eles, sou demasiado directa, exponho demasiado o que sinto. Deixei de dar dois beijos, estendo a mão em vez disso. Fora a proximidade física, fora o abraço fácil, a palmadinha nas costas, o que for. Basicamente, não nos chegamos demasiado uns aos outros. Mas quando estou feliz, não resisto a abraçar alguém próximo, ou mesmo a tentar criar o hábito do beijinho na cara como forma de cumprimento quando chego ao fim do dia. Alguns habituam-se, outros ainda me acham estranha.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Eléctricos e metros


Sonhei hoje que o homem da minha vida conduzia um eléctrico da Carris no Porto. Lembro-me perfeitamente da figura dele, nada o meu género e muito mais velho do que esperava, entre os 30 e 40 anos. Um típico português, de faces morenas, sobrancelhas cheias e cabelo escuro. Lembro-me de pensar " Bem, se é este, não tenho remédio, há que aprender a gostar com o tempo". Dizia-me que me ia levar aos bares mais in da cidade. E eu esperava, em pé, ao lado da porta da entrada, como um passageiro que não sabe o caminho e pede orientação. E pergunto-me, a que bares me levaria um condutor da Carris... e porque será que fui juntar estas coisas num sonho?


A viagem mais estranha da minha vida teve lugar em Berlim. Para quem conhece esta cidade, sabe perfeitamente que é o lugar dos estranhos (e quem sou eu para dizer que alguém é estranho? - já entrei num bar com amigos, vi gente a dormir em sofás com cães e a dona olhou para nós como se fôssemos de outro planeta. Afinal de contas, não nos adequávamos perfeitamente ao sítio, que era o único aberto aquela hora). Berlim é a cidade onde se encontra todos os tipos de identidades, e por isso vejo-a como o sítio perfeito para evoluir, para conhecermos outros tipos de visões, ideias, formas, vontades, piercings, tatuagens e até novas cores de cabelo.

A "minha" viagem foi ao fim da tarde, já na hora de toda a gente voltar para casa, mas o metro encontrava-se ainda assim relativamente vazio. Uma rapariga chinesa estava sentada à minha frente, e notava-se que tinha o estilo asiático também representado na sua forma de estar - sentava-se de costas direitas, mãos a proteger a mochila no colo, distraída à espera da estação certa. Entra um senhor que parece conhecê-la. Senta-se a um metro dela, e olha-a de forma peculiar - tinha um olhar esperançoso, pleno de vontade, e só faltava mesmo falar com ela, para eu comprovar a minha curiosidade e descobrir se finalmente se conhecem. Mas ela ignora-o, não olha nunca para ele, não olha nunca para ninguém, não conhece nenhum dos que a rodeiam. E ele olha-a - está mesmo sentado virado para ela, e só de vez em quando deixa de o fazer para se dedicar a ler uma revistinha sem imagens que tem na mão. Parece tentar decorar o que lê - sussurra imenso, como se falasse com alguém. Olha de novo para a adolescente chinesa e sussurra aparentemente para ela. Porque não responde? Estará chateada? Como se conhecem?, pergunto eu ao som da música nos meus headphones que afastam o som do movimento do metro. Naquele metro, agora o de distância entre os dois, senta-se uma rapariga que acaba de entrar. Está exactamente à minha frente e faz-me lembrar uma Lolita dos tempos modernos. Vestida de forma inocente, mas talvez provocante, tem uma argola no lábio inferior. Olha para mim fixamente, talvez pela cor laranja do meu casaco, (ou será que me assemelho a um Mr. Humbert ?), mas chega a incomodar-me e viro a cara para longe. Quando volto a observar o que se passa, o senhor conversava agora direccionado para esta, que continuava a olhar para mim, evitando dar atenção ao que ouvia pelo ouvido esquerdo. E ele continuava a olhá-la esperançado - uns olhos azuis brilhantes e um sorriso como se o destino que o espera fosse o paraíso, ele sendo como o único detentor do segredo. A minha insensibilidade trouxe-me a vontade de rir - e penso agora, mas quem sou eu para rir?, sou mais uma e tenho as minhas próprias manias - e tentava olhar ou para a rapariga, que ouvia e ouvia o sussurro do senhor, ou para longe, tentando concentrar-me em coisas sérias para manter a aparência da distracção. Para interromper o meu interesse no senhor, passa entre nós um homem completamente bêbedo. Veste-se de tropa, leva numa mão a cerveja e na outra uma lata com que pede dinheiro. Ao peito leva um quadrozinho que diz "Alles ist verloren" - "Tudo está perdido", e cambaleando resmunga em alemão "Um cêntimo...Só um cêntimo!". A timidez da minha insensibilidade rebenta no momento em que o vemos já de costas e partilho as gargalhadas escondidas com a Lolita. Como ironia depois de escrever esta história, agora que penso no que vi, não é tão estranho. Contei a viagem a uma amiga de Berlim e também não ficou nada surpreendida. Afinal, é Berlim.