quinta-feira, 29 de novembro de 2007

As páginas que esperam

Não me concentro.
e queria escrever. queria continuar a preencher as folhas brancas do meu caderno de notas. não as quero deixar assim, vazias, sem carácter, sem personalidade, iguais a todas as outras que não atraíram quem as tem. não são ninguém ou são simplesmente mais uma, prontas a ser usada para um rascunho sem interesse, para um número de telefone, um e-mail do centro de cópias, uma data para lembrar ou esquecer. e assim sem jeito vão para o lixo, para uma vida eterna de silêncio e repouso, misturadas de novo entre mil outras incógnitas e de valor perdido.
será que faço sentido?
de manhã, ao vestir-me, olho para o espelho e vejo roupas usadas em conjunto que antes nem questionava poderem existir no mesmo contexto. e não faço ideia se faz parte de evoluir ou se simplesmente estou a perder o bom gosto e a decência de quem gosta de passar despercebida porque as roupas estão minimamente bem conjugadas. os sapatos que não combinam com as calças, a camisola que também não vai bem com as calças. fora com as calças, já que é assim. mas porra, está frio, estou atrasada e não quero saber. vou assim. afinal, vivo na cidade onde cada um se expressa como quer e quase ninguém é normal.
dou por mim perdida. desperto a meio de tudo - a meio da rua, à espera do semáforo, a meio da página do meu livro, a meio do trabalho, a meio de tudo. desperto e forço o meu cérebro para que se lembre do último momento de atenção. Respiro de alívio, foi há um segundo atrás.
leio e gozo as palavras. mas não percebi porque a minha concentração não está aqui hoje. volto atrás repetidamente até ter compreendido, até ter assimilado o sentido completo. Afinal, é um direito meu. Eram lindas, as palavras, quando as vi pela primeira vez. Faziam um sentido fantástico, só encadeadas entre si. Agora compreendo. Que bem expresso.

As minhas saem enquanto os dedos percorrem as teclas sem que olhe para elas. pauso, apago, escrevo, reflicto. olho pela janela. olho para o céu e penso no tempo. disperso de novo entre outros pensamentos e não volto por uns bons minutos. acordo de novo, vejo o texto parcialmente escrito e pergunto-me "O que estava eu a fazer?".

Mas a minha amiga inspiração está aqui - pelo menos assim o sinto sempre que vejo um sentido brilhante nas coisas.

A caneta na mão, a página à espera e o movimento quieto e pensativo. Até uma próxima vez.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Cheguei ao cúmulo da minha sensualidade quando um vagabundo me convidou para sair. Não sei se ria, se chore.

Um aspecto indescritível e a idade, pelo menos três vezes a minha, mas era poliglota e quando falou inglês, tinha pronúncia britânica. Isso engata qualquer uma, agora que penso nisso. "Consigo entrada de graça no teatro", dizia ele.

Praguejei interiormente quando veio ter comigo e pensei "Ah, como certas pessoas se ririam à gargalhada de mim neste momento". Ri-me eu, que remédio.